Se você costuma frequentar torneios de Magic, provavelmente já notou diversos jogadores vestindo as mais variadas camisas de times. No Pauper, isso é ainda mais comum. Mas, afinal, o que está por trás dessa cultura? Quando surgiu e o que ela realmente representa para a comunidade?
Para entender melhor esse movimento, conversei com alguns times da região, cada um com histórias e motivações diferentes. Ao longo dessas conversas, descobri visões e experiências que ajudam a compreender melhor a essência dos times dentro do nosso formato, uma mistura de amizade e competitividade.
Comecei a jogar Pauper em 2015, mas foi apenas em 2017 que passei a viajar para torneios maiores. Nesse ano, no Nacional Pauper, presenciei pela primeira vez jogadores vestindo camisas de time. Eles faziam parte do Jundiaí Pauper Team, um dos times mais antigos do formato.
A história deles se inicia entre 2013 e 2014: um grupo de amigos que queria jogar e fortalecer o Pauper em sua loja local. Aos poucos, se uniram, e a ideia de se uniformizarem surgiu naturalmente.
Perguntei ao Paulo “Punisher” Fratantonio como ele enxerga o movimento dos times no cenário Pauper brasileiro:
Cara, é estímulo puro! Uma coisa é se dedicar sozinho ao jogo; outra é estar entre amigos, dividir as viagens, os treinos e até as jogadas erradas depois das partidas — é sensacional! Fomos o primeiro time a ir ao Nacional com camisetas iguais, em 2017. Fomos em quatro ou cinco carros daqui. Em 2018 já havia outros times uniformizados, e foi muito legal ver que o exemplo se espalhou.
Em 2018, o Next Level era um desses “times” uniformizados que o Punisher mencionou. Coloco a palavra time entre aspas porque, com o passar do tempo, percebemos que nunca tivemos uma estrutura realmente organizada de equipe.
Ainda assim, naquele primeiro momento, nos víamos como um time. E assim como o pessoal de Jundiaí, também fomos notados e certamente inspiramos outros jogadores a se unirem e a adotarem uniformes.
Com o tempo, nossa visão evoluiu. Hoje, nos enxergamos mais como uma organização, uma comunidade. Fomos além das lojas locais e, entre nossos membros, há jogadores de diferentes times e regiões, todos convivendo no mesmo ambiente. É um grupo voltado à troca de experiências e apoio constante ao Pauper.
Embora as metas tenham mudado, o espírito permanece o mesmo. Continuamos vestindo nossa camisa com orgulho, pois ela simboliza nossa jornada até aqui, e o que ainda queremos construir juntos.
Durante a pandemia, com as lojas fechadas, os torneios online ganharam força. No embalo de eventos como o Pauper Royale e o Tropical Pauper, surgiu o Royale Supercup, um campeonato idealizado para reunir equipes e promover disputas no Magic Online (MOL).
Com uma estrutura diferente dos campeonatos tradicionais, o Royale Supercup distribui os jogadores em grupos separados, garantindo que cada grupo tenha apenas um representante de cada time. Ao final das rodadas o time com o melhor desempenho coletivo é coroado campeão.

Acredito que o formato do Supercup é ideal para promover ainda mais a cultura de times. Uma coisa é participar de um torneio tradicional e ter um representante do seu time no Top 8, o que já ajuda a fortalecer a marca. Mas quando o torneio é disputado entre equipes e apresentado como entretenimento ao público, ele gera engajamento, fomenta o espírito de torcida e cria uma rivalidade saudável. Elementos que também estão presentes nos e-sports e são essenciais para o desenvolvimento do cenário.
Brendo Ikeda, capitão dos Monarchs, equipe que marcou presença em todas as edições do Supercup, compartilhou sua visão sobre a importânica do torneio:
O Supercup é fundamental para que os times divulguem seus jogadores e organizações à comunidade Pauper. Acredito que ele é essencial para inspirar mais organizadores a promoverem eventos por equipes e, quem sabe um dia termos tantos torneios quanto um e-sport tradicional.
Além de promover a competitividade, o Supercup também serviu de inspiração para o surgimento de novas equipes. Foi o caso do Groselhas Assassinas, como conta Sibuta, um dos fundadores:
Nosso time surgiu em 2021. A motivação veio da vontade de reunir a galera local para jogar o Supercup. Participamos da segunda edição, mas lembro de assistir à primeira e achar incrível, os drafts, os jogos com narração, tudo muito empolgante. Aquilo despertou nossa vontade de montar um time.
A forma como cada time treina e se organiza diz muito sobre o perfil dos seus integrantes. A maioria dos jogadores encara o Pauper como um hobby, e isso naturalmente influencia a rotina das equipes. Nem todos buscam uma estrutura rígida; muitos preferem um ritmo mais leve com discussões mais sérias e testes intensivos apenas às vésperas de grandes torneios.
Guilherme Gomes, do Só a Nata, descreve como isso funciona na prática:
A gente não tem uma rotina estabelecida. As conversas acontecem naturalmente ao longo do dia, como se fosse um fórum de discussões. Quando há torneios grandes, como o CLM ou algo na Mont, o foco muda: a galera se reúne para revisar decks, discutir side guides e testar jogadas.
Fora desses momentos, o grupo é mais leve, sem pressão, mantendo o ambiente mais descontraído.
Mas há também equipes que encaram o formato de maneira mais estruturada, com treinos regulares e metas definidas. É o caso do Dynamite Pauper. Segundo Tiago Leite, o time busca manter uma rotina flexível, capaz de se adaptar às diferentes realidades dos jogadores, mas que ainda exige o comprometimento de todos os integrantes.
Mantemos uma rotina de reuniões e treinos regulares, com foco em análise de metagame, matchups e sideboard plans.
Temos uma planilha de desempenho para registrar resultados e identificar pontos fortes e fracos de cada jogador, além de promover rotatividade entre os times A e B conforme performance e engajamento.
Além dos treinos técnicos, incentivamos a revisão de partidas gravadas, discussões de lista e testes cruzados entre decks do meta. O objetivo é criar uma cultura de estudo contínuo, parecida com a rotina de equipes profissionais de e-sports, mas sem perder o espírito colaborativo do Magic de loja.
No fim das contas, qualquer jogador que busca bons resultados em torneios precisa se preparar competitivamente. Fazer parte de um time facilita esse processo através da troca de informações e experiências. Como destaca Brendo:
Fazer parte de um time acelera o aprendizado e torna o caminho competitivo mais leve e menos estressante.
Grande parte dos times de Pauper é movida pela paixão pelo formato e pela amizade entre os jogadores. A maioria não conta com apoio financeiro ou patrocínios, e as despesas com viagens, inscrições e uniformes costumam ser custeadas pelos próprios integrantes.
Mesmo assim, a monetização é pauta em muitos grupos. Guilherme acredita que é possível, desde que haja estratégia e criatividade:
Apesar de não ser um objetivo de nosso time, acredito que primeiro passo seria investir em criação de conteúdo, não apenas sobre Pauper, mas sobre Magic e o universo dos card games como um todo. Patrocínios de lojas são um começo, mas limitados. O ideal seria investir em marca, identidade visual e produtos, transformando o time em uma marca reconhecível.
Brendo, compartilha uma visão semelhante. Para ele, a produção de conteúdo é o primeiro passo para qualquer equipe que queira se profissionalizar:
Não é preciso ser um influenciador, mas é necessário ter algo para oferecer e, assim, atrair patrocinadores. É a partir daí que o time começa a gerar uma renda.
Segundo ele, o Monarchs possui apoio de patrocinadores e uma pequena receita proveniente da criação de conteúdo. Brendo lembra que, mesmo entre times profissionais, a principal fonte de renda raramente vem dos torneios — e sim de patrocínios, parcerias e transmissões ao vivo.
Independentemente do nível de competitividade, profissionalizar um time é um processo complexo e demorado. Além disso, o Pauper nunca foi prioridade no circuito competitivo da Wizards, o que torna a estruturação de times profissionais ainda mais desafiadora.
Saber como cada equipe enxerga o seu futuro ajuda a compreender a essência que cada uma carrega. Por isso, perguntei aos times: “Como vocês veem seu time daqui a cinco anos?”
Jundiaí Pauper Team:
Acho difícil projetar, pois há integrantes que querem crescer competitivamente e outros que jogam apenas por diversão. A única certeza que vejo é que nosso time sempre foi honesto. Há mais de dez anos seguimos juntos, e nenhuma vitória ou premiação vale mais que a integridade de cada jogador.
Monarchs:
Com uma Gamehouse e um escritório seria sonhar alto demais? Hahaha.
Groselhas Assassinas:
Eita, pergunta difícil! Quando criamos o time, sonhávamos em disputar um Pro Tour, e quatro anos depois esse sonho se realizou com a participação do André Faustino. Em 2025 completamos um ano do time de Pokémon dos Groselhas, e nosso desejo é continuar alcançando Pro Tours e Mundiais de Pokémon, manter nossas amizades, organizar eventos beneficentes e, acima de tudo, que o time permaneça unido e continue ajudando a comunidade.
Dynamite Pauper
Queremos que o Dynamite Pauper seja referência nacional em organização, desempenho e ética competitiva. Pretendemos manter nossa base de jogadores experientes e formar novos talentos, transformando o time em uma verdadeira escola de Magic competitivo. Nosso sonho é que, ao ouvir o nome ‘Dynamite Pauper’, as pessoas imediatamente associem respeito, excelência técnica e paixão pelo formato. Mais do que títulos, queremos deixar um legado. Elevar o nível do Pauper brasileiro e inspirar novas equipes igualmente comprometidas.
Aproveitei para perguntar para nosso autêntico e querido Capiva, como ele enxerga futuro da Next Level Pauper, e a resposta não poderia ser mais otimista:
Vejo a Next Level Pauper daqui a cinco ou dez anos como uma organização muito respeitada dentro da cultura Pauper e no Magic de forma geral. Nos vejo organizando um Next Level Pauper Tour oferecendo premiações de 100 mil reais ou mais.
Ao escrever esse artigo, percebi que fazer parte de um time pode te ajudar a evoluir como jogador e a se preparar melhor para os grandes torneios, mas não se trata apenas de resultados e conquistas. Um time também pode ser simplesmente um lugar para estar entre amigos, compartilhar risadas e jogar por pura diversão.
É essencial que qualquer rivalidade entre equipes seja saudável, com foco no crescimento do formato e dos times, garantindo que esse movimento continue rendendo frutos no futuro.
No fim das contas, nenhuma vitória, troféu ou premiação deve ser mais importante do que manter a comunidade Pauper forte, unida e acolhedora.
Agradeço imensamente a todos os times que participaram, compartilhando suas visões sobre o cenário de times no Pauper. Sem a colaboração de vocês, este artigo não seria possível.
Infelizmente, não era viável incluir todas as respostas completas sem prejudicar a fluidez da leitura. Mas para quem tiver interesse, a entrevista na íntegra está disponível para nossos apoiadores.
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Groselhas Asssassinas / Next Level Pauper / Só a Nata / Dynamite Pauper / Monarchs / Jundiaí Pauper (não possui redes sociais)






